segunda-feira, 24 de novembro de 2008

AS CINCO VIAGENS

Tal como foi necessário ao Aprendiz maçom discernir entre o vício e a virtude e, para isso teve que caminhar das trevas em direcção à Luz, também o Companheiro maçom tem que empreender cinco viagens de progresso, para no fim destas se encontrar apto a utilizar com eficácia as ferramentas do seu grau. Por outro lado, tal como o Aprendiz maçom, também o Companheiro maçom deve proceder do mundo concreto, ou do domínio da realidade objectiva (o Ocidente), ao mundo abstracto ou transcendente (o Oriente), o mundo dos Princípios e das Causas, atravessando para isso a região obscura da dúvida e do erro (o Norte), para voltar pela região iluminada pelos conhecimentos adquiridos (o Sul), constituindo cada viagem uma nova e diferente etapa de progresso e de realização. Nas cinco viagens que o novo Companheiro terá que fazer para atingir a plenitude dos conhecimentos do seu grau, realsa-se que nas primeiras quatro viagens, nas de número par (2 e 4) o iniciado leva consigo instrumentos passivos, enquanto que nas de número impar (1 e 3), o iniciado leva consigo instrumentos activos.

A PRIMEIRA VIAGEM

Na primeira viagem, o neófito leva consigo as duas ferramentas com que realizou o seu trabalho de Aprendiz, e com as quais o profissional que trabalha a pedra bruta a desbasta: o malhete e o cinzel. Com o malhete e a acção exercida pela força da gravidade, o Obreiro produz um efeito preciso e determinado na matéria, que na realidade é a desagregação da parte que excede a forma que se deseja, menos resistente que a massa metálica do malhete. Por consequência deste efeito de força e de precisão, o malhete, ou o malho, representa o Poder potencialmente destrutivo, se não for utilizado com extremo cuidado e muita inteligência. No campo da simbologia, comparativamente, se não houver controlo inteligente sobre o lado energético da natureza humana, este pode desenvolver-se de maneira exagerada e indevida, comprometendo seriamente a Obra de Construção Individual, ao mesmo tempo que se transforma num potencial perigo para a estabilidade do edifício social.

Em comparação com o malhete, ou malho, a massa metálica do cinzel é limitada; porém, dada a sua têmpera, perfil e agudez de forma, faz com que quando cravado na matéria bruta, a corte, em vez de a quebrar em pedaços, como o faria por si só o malho. Todavia, apesar das suas qualidades intrinsecas, o cinzel sem a força do malho, ou malhete, seria ineficiente e incapaz de produzir por si só o resultado esperado. Pelo que na esfera intelectual, comparativamente, este instrumento comporta-se similarmente à natureza humana, que continuamente elabora planos e projectos, porém, se não tiver a energia intelectual indispensavel e a força de vontade do crer para a concretização da obra, nunca conseguirá pôr em prática os planos delineados na prancha de traçar, condenando-se à inércia.

Em suma, na primeira viagem o Companheiro maçom aprendeu que com o uso combinado das duas ferramentas, ou seja, com o uso harmónico da vontade impulsiva e da determinação inteligente, aplicadas no carácter, ou seja, na pedra bruta da personalidade profana, obterá uma pedra lavrada, apta a ser integrada na alvenaria do seu Templo Interno. Pelo que a capacidade do uso harmónico, reflectido e discernido, faz com que estas duas faculdades gémeas, conduzam o Companheiro maçom ao Poder da sua vontade.

A SEGUNDA VIAGEM

Os instrumentos que o novo Companheiro maçom transporta para a sua segunda viagem, são de uma natureza inteiramente diferente dos com que executou o seu trabalho de Aprendiz. Pois, se as duas primeiras ferramentas eram pesadas e destinavam-se a um trabalho material, já a régua e o compasso, instrumentos destinados à segunda viagem, são leves e de precisão, que para além de se destinarem a verificar e a dirigir o trabalho executado com as anteriores ferramentas, têm ainda o objectivo puramente intelectual. Na medida que a régua e o compasso não são simplesmente dois instrumentos de medida, são mais do que isso, dado que são instrumentos criativos e cognitivos, pois através deles, podemos construir quase todas as figuras geométricas, começando pelas duas figuras geométricas elementares, que são a linha recta e o círculo. Aliás, figuras de grande significado construtivo para o maçom, uma vez que no domínio da moral e da intelectualidade, a linha recta, que é traçada com o auxilio da régua, significa para este a direcção rectilínea de todos os seus esforços e actividades, na qual se inspira em todos os seus propósitos e aspirações, dado que é dever de todo e qualquer maçom, nunca se desviar em seu progresso ns senda da exactidão e da inflexão da linha recta, pela qual constantemente se orienta na procura sistemática do caminho mais justo e mais sábio, aquele que lhe permite ser fiel aos Princípios a que se propôs seguir e, que na tábua de traçar são representados por pontos, onde com o auxilio da régua se traça a linha recta do caminho a prosseguir.

Quanto ao círculo, este mostra-nos e define-nos o alcance do raio das nossas actuais possibilidades, ou seja, mostra-nos o nosso campo de acção, dentro do qual devemos actuar, sempre orientados sabiamente pela linha recta, que passa constantemente pelo seu centro. Assim, com estes dois instrumentos, o Companheiro maçom aprende a uniformizar constantemente a sua conduta, sempre pautada pelo padrão mais nobre e mais elevado, dentro das possibilidades que são apresentadas no seu raio de acção. Por outras palavras, a união do círculo com a recta, representa a harmonia e o equilíbrio que devemos aprender a ter, para que de entre as infinitas possibilidades do nosso ser e a realidade das condições finitas na qual nos encontramos, alcancemos a perfeita e progressiva manifestação do Ideal material.

A TERCEIRA VIAGEM

Na terceira viagem, o Companheiro maçom conserva a régua na sua mão esquerda e, substitui o compasso pela alavanca, o quinto instrumento da sua caminhada de afirmação para o grau de Companheiro maçom, o qual podemos caracterizá-lo como sendo análogo ao compasso, uma vez que este novo instrumento também baseia a sua acção sobre dois pontos, onde sobre os quais aplica a potência e a resistência, com o auxilio de um terceiro ponto que lhe serve de ponto de apoio. Pelo que em comparação com o instrumento precedente, a alavanca tem uma função eminentemente activa, já que com seu auxilio, podemos mover e levantar objectos mais pesados. Pelo que simbolicamente a alavanca representa para o maçom, o desenvolvimento da sua inteligência e da sua compreensão, a qual regula e domina em qualquer momento a inércia da matéria e a gravidade dos instintos humanos, levantando-os e movendo-os se for preciso, para que ocupem o lugar que lhes está destinado na Construção do seu Templo Interno.

Por outro lado, para que a realização da movimentação de materiais pesados seja possivel, são necessárias duas mãos para que o esforço seja mais efectivo, pelo que estas representam para o maçom as duas faculdades (activa e passiva) da vontade e do pensamento humano.

Num ponto de vista maçónico mais genérico, podemos considerar a alavanca, como o símbolo da Inteligência humana, cujo ponto de apoio natural é o corpo físico, sobre o qual actua, na medida eficiente do seu desenvolvimento, para que este produza todas as acções necessária à Vida, sendo a Força do querer, a potência que sobre esta é aplicada e, a Vontade, a expressão do potencial espiritual do Ser, manancial imanente de toda actividade, cuja natureza particular a inteligência determina e domina.

Em face desta analogia, o pensamento sem a vontade, e a vontade sem o pensamento seriam igualmente incapazes de gerar a Força Infinita da Fé, que para ser efectiva deve ser iluminada por um Ideal, e dirigida pelo motivo mais elevado, mais nobre e mais desinteressado, que a cada um seja dado alcançar.

Em suma, o Companheiro maçom nunca deve separar-se da régua com que entrou pela primeira vez na segunda Câmara, uma vez que esta simboliza a direção do seu caminho, sem a qual nunca poderia fazer uma obra definida e efectivamente construtora. Simbolicamente, sem este instrumento, a nossa vida tornar-se-ia num caos (como seria um Universo sem Leis). Quanto ao novo instrumento, a alavanca, o Companheiro maçom aplica-o nos seus esforços, por meio do qual realiza o que de outra maneira lhe seria impossível realizar, dado que a alavanca permite multiplicar as suas forças em proporção directa com as suas necessidades.


A QUARTA VIAGEM

Na quarta Viagem, o iniciado continua a segurar na régua com a sua mão esquerda, acompanhada desta vez com o esquadro, que é o sexto e último instrumento da sua caminhada para a afirmação do grau de Companheiro maçom, cujo o uso correcto e eficiente deve aprender, para poder continuar a caminhar em direcção ao Magistério da sua própria arte.

Assim, através da união coordenada da régua com o esquadro, o Companheiro maçom passou a ter a capacidade para dar um passo em direcção a um objectivo definido. Pelo que a régua com a acção do esquadro representa a necessária rectificação de todos os seus propósitos e determinações, segundo o critério e Ideal que o inspira e, de acordo com as acções a que se proponha efectivar.

Particularmente, o esquadro unido com a régua, ensina ao maçom, que o fim nunca justifica os meios, só se pode obter um resultado satisfatório, quando os que se empenham estejam em harmonia com a finalidade, que unidos se propõem a alcançar. Pelo que por exemplo, é um erro crermos que podemos obter a paz por meio da guerra, dado que a guerra se apoia em pensamentos de ódio, inimizade e violência, enquanto que para alcançarmos a paz, necessitamos sobre tudo de amizade, simpatia, compreensão e cooperação.

A QUINTA VIAGEM

Na quinta viagem, o Companheiro maçom procura o Génio Individual, no qual se reflecte a verdadeira capacidade do artista. Pelo que é uma caminhada diferente das precedentes, começando, por não ser necessário o auxilio de qualquer instrumento para a efectivar, como ainda caminha numa direcção oposta áquela que seguiu até agora: para trás e sob a ameaça de uma espada posta sobre o seu peito.

O que leva a interrogar-mo-nos: o que significa esta troca completa de direcção e de actividade? Por que razão abandonou o Companheiro a régua simbólica com a qual fez a sua entrada na segunda Câmara? Na verdade, esta caminhada simboliza uma nova etapa de progresso, que se cumpre de uma maneira misteriosa, em total oposição às Leis e às regras que foram seguidas até aqui. Todavia, a maneira misteriosa como se cumpre esta última viagem, tem muitos sentidos e encerra uma profunda doutrina, intimamente relacionada com o número cinco, o que a torna muito peculiar no grau de Companheiro. Pois, o facto desta viagem se fazer sem nenhum instrumento, já por si só a torna misteriosa e inigmática. Nas quatro viagens precedentes, o Companheiro maçom aprendeu o manejo eficaz dos seis instrumentos fundamentais da construção, a saber, o malhete ou malho, o cinzel, a régua, o compasso, a alavanca, e o esquadro que correspondem às seis principais faculdades, pelo que agora o Companheiro maçom tem que procurar a sua sétima faculdade central, que corresponde à letra G (a sétima letra do alfabeto latino), cujo o perfeito conhecimento desta o conduzirá ao Magistério da sua arte. Por outras palavras, esta nova faculdade representa o novo campo de estudo e de actividade que se abre ao artista experimentado no uso dos diferentes instrumentos, para expressar uma fase superior das suas habilidades, e ao iniciado, uma vez que já dominou a sua natureza inferior e se adestrou no uso de suas diferentes faculdades, com a aquisição de novos poderes multiplicará os seus talentos.

Portanto, esta última viagem representa um novo género de trabalho, em que o Companheiro maçom deve aprimorar-se, e para o qual todos os instrumentos que foram empregues até agora, ainda mesmo que a régua, são supérfluos, dado que se trata de uma actividade puramente espiritual, onde somente a meditação conduz à contemplação da Realidade. Por outro lado, o abandono da régua representa o estado de completa liberdade que se consegue ao dominarmos os sentidos e as paixões inferiores, pois abre-se para o individuo a percepção daquela Luz Interior (simbolizada na Estrela Flamejante) que habita no coração onde todos os actos e pensamentos são filtrados, pelo que toda a regra externa se torna inutil perante a voz surda, que se faz ouvir dentro do nosso próprio coração.

Em face deste simbolismo, depois do Companheiro maçom ter realizado as quatro primeiras viagens, segundo o movimento aparente do sol, realiza a última viagem inversamente, segundo o movimento real da Terra, ingressando definitivamente no campo da realidade, deixando assim de ser escravo da aparência externa.

Assim, depois do iniciado ter completado a quinta viagem, passou a estar apto a utilizar os instrumentos de construção para lavrar a pedra necessária ao seu Templo Interno, não necessariamente a pedra cúbica, ou seja a individualidade desenvolvida em todas as suas faces, visto que uma pedra deste género constitui a exceção, e seria por isso condenada ao isolamento por não poder aproveitar-se na união com as demais. O que o propósito construtor da Maçonaria necessita, é de uma pedra em perfeita esquadria, desde que tenha a proporção e o paralelismo, entre os seus diferentes lados, respectivamente verticais e horizontais, para que possam utilmente aproveitar-se e ser colocada no lugar que lhe corresponde, com a ajuda do nível e do prumo. Todavia, os maçons não devem procurar a uniformidade absoluta das idéias e convicções, pela qual se converteriam noutros tantos ladrilhos, que se bem que sejam úteis na construção, e se utilizam nas construções correntes, já o não seriam de grande utilidade para um edifício grandioso e imponente, como é aquele que nos propomos simbolicamente levantar, com os nossos esforços unidos, para a Glória do Grande Arquitecto do Universo cuja perfeição e beleza, dependem igualmente da inteligente variedade dos materiais que se empregam, assim como da sábia coordenação e combinação dos mesmos, que de acordo com um Plano Magistral, haverá lugar para pedras nas formas e dimensões mais complexas e variadas.

Por conseguinte, devemos desenvolver e trabalhar a pedra da nossa personalidade na forma que melhor se adapte e segundo a sua particular natureza, para ocupar o lugar mais apropriado no Edifício da Humanidade e da Criação, e expressando nela, como melhor podemos, aquela parte que nos é dado fazer patente do Génio Sublime do Artífice, do qual somos outras tantas manifestações.

1 comentário:

NILTON MODOLO disse...

Textos perfeitos meu Ir.:!

Abraços!
Nilton Modolo.: